Revelando Territórios

Que memória queremos da cidade de São Paulo?

Um museu de cidade deve incorporar em suas ações os roteiros, as histórias, as obras e as memórias correspondentes ao que é a cidade, bem como registrar os impactos, os ajuntamentos, os cuidados e os descasos com a cidade. E, sob a tipologia de “museu de território” [ICOM/UNESCO], deve contribuir para a discussão e a reflexão quanto ao cenário contemporâneo de seu próprio objeto: a cidade. Portanto, registrar e lidar com percursos diversos, por vezes dolorosos, é parte do compromisso que o Museu da Cidade de São Paulo assume com a memória e a realidade paulistanas. Nesse sentido, não há dúvida quanto à importância de documentar, pelo olhar dos habitantes, as reverberações em São Paulo da pandemia que assolou o mundo a partir de 2020.

Por meio de estratégias distintas o Museu tem elaborado formas de atuação para dialogar com os territórios paulistanos e operar junto à realidade de seus atores sociais, afirmando suas intenções de descentralização dos olhares e alinhando-se ao projeto de aproximação do Centro da cidade com as periferias e das periferias com o Centro, proposto pela Secretaria Municipal de Cultura. Dentre elas, em meio à pandemia de Covid-19, é que foi lançado o edital do Concurso “Revelando Territórios”, tendo por objetivo fomentar a produção de imagens e retratos sociais desse período, incorporando registros de fotógrafos e documentaristas, tanto amadores como profissionais.

Em 2021 o ICOM (Conselho Internacional de Museus) realizou a pesquisa “Desafios em tempos de Covid-19 – Pesquisa do ICOM Brasil com profissionais e públicos de museus”, indicando as aspirações dos profissionais dos museus de superar esse momento marcado por desafios do trabalho no setor. É também em sintonia com tais anseios que o Concurso “Revelando Territórios” – elaborado coletivamente pela equipe do Museu – buscou encontrar novos sentidos a partir de olhares externos.

As premiações visaram selecionar projetos, nas modalidades de fotografia documental e audiovisual, que registraram o enfrentamento da pandemia de Covid-19 de atores sociais em situação de vulnerabilidade que vivenciam essa realidade paulistana em suas diversas facetas, entre 2020 e setembro de 2021. As obras apresentadas permeiam as diversas zonas de São Paulo, visibilizando contextos como os de pessoas em situação de vulnerabilidade social, população LGBTQIA+, trabalhadores de entrega por meio de aplicativos, periferias, isolamento, entre outros. Os 14 projetos contemplados foram incorporados ao Acervo Fotográfico do Museu da Cidade de São Paulo – formado a partir da criação, por Mário de

Andrade, em 1935, do Departamento Municipal de Cultura – e complementados por registros fotográficos que revelam a transformação urbana, socioantropológica e cultural de São Paulo, desde 1860 até os tempos atuais.

Ao incorporar olhares de grupos sociais vulneráveis (que podem e devem ser continuados no pós-pandemia) foi possível ampliar os acervos e as referências do Museu sobre o contemporâneo, corroborando o reposicionamento institucional previsto no seu Plano Museológico, sob a perspectiva de torná-lo mais inclusivo, participativo e caminhante com os alinhamentos da cidade.

A continuidade dessa ação prevê para a próxima edição do Concurso, e com a expectativa de encontrar ações que olhem para uma possível São Paulo educadora, mapear projetos educativos, sejam eles vinculados às instituições formais ou informais, para contemplar registros de iniciativas voltadas aos conceitos de Cidade Educadora.

NÁDIA BOSQUÊ
Coordenadora Núcleo de Formação e Desenvolvimento de Públicos Museu da Cidade de São Paulo

MARCOS CARTUM
Diretor Museu da Cidade de São Paulo Departamento dos Museus Municipais