Uma narrativa do Brás
À primeira vista, o Brás recortado nas fotografias de Michael Robert Alves de Lima parece datado pela fase das grandes intervenções urbanas, entre as quais a abertura da Via Leste-Oeste (a Av. Alcântara Machado, o “Minhocão” e a sua interligação), a construção das duas primeiras linhas do Metropolitano, e pelas consequências que essas obras causaram na sociedade. Todavia, uma observação mais meticulosa conecta as imagens à descrição da ocupação física do bairro, à diversidade do elemento humano que reside, trabalha ou transita, e às camadas históricas do local.
No ensaio também revela o traço documental, categoria que se fortaleceu naquele momento de percepção de descaracterização e desaparecimento que foi motivada pela rápida transformação de regiões como o Anhangabaú e a Avenida Paulista. Sendo funcionário da Divisão de Iconografia e Museus, instituição vinculada ao Departamento do Patrimônio Histórico, supõe-se o alinhamento de Michael Robert com o pensamento do inventário e da preservação histórica. Nessa perspectiva, as instalações férreas, o Balão do Gasômetro, a fachada do Cine Piratininga, o Cine-teatro Oderban e os casarões erguidos por mestres de obras provenientes da Europa ganham equivalência ao registro do comércio madeireiro, de cereais e da moda, atividades econômicas que predominaram após a desativação do parque fabril. Em meio à organização improvisada das ruas, onde o passado se mostra decadente, o olhar do fotógrafo não deixou escapar o que mais importa. Ou seja, a vida de seus personagens desprovidos de qualquer ostentação de riqueza, mas aparentemente íntimos da realidade do trabalho, da moradia simples e da sociabilidade possível, aguardando, quem sabe, a próxima festa de São Vito.
Realizada em 1981, a documentação fotográfica de Michael Robert, sintetizada nas duas panorâmicas que mostram as chaminés reinando sobre os telhados, ganha especial valor documental se confrontada com a vista atual que se tem dos mesmos pontos de captação (Rua do Gasômetro e Avenida Rangel Pestana): a paisagem do bairro tomada por grandes e altos conjuntos de edifícios que buscam inserir moradias num território historicamente caracterizado pelo fluxo de deslocamento em massa.
Felipe Garofalo, Henrique Siqueira e Monica Caldiron
Museu da Cidade de São Paulo
Curadores
Registros do Brás | Michael Robert Alves de Lima
Curadoria: Felipe Garofalo, Henrique Siqueira e Monica Caldiron
Solar da Marquesa de Santos | Museu da Cidade de São Paulo
Rua Roberto Simonsen, 136 – Sé – São Paulo – SP (próximo à estação Sé do metrô).
27 de agosto de 2022 a 20 de novembro de 2022 [PRORROGADA!]
Terça a domingo, das 9 às 17h.
Entrada gratuita, sem necessidade de agendamento ou retirada de ingresso.
Serviço educativo disponível.
Intérprete em libras disponível, com agendamento prévio a partir do e-mail: educativomuseudacidade@gmail.com
©Michael Robert Alves de Lima