Leonilson – Instalação sobre duas figuras, 30 anos depois

Leonilson: Corpo Político. Instalação sobre duas figuras, 30 anos depois   

Em 28 de maio de 1993, o artista José Leonilson Bezerra Dias (Fortaleza, 1957) faleceu devido a complicações relacionadas ao HIV/Aids. Seu legado artístico transcende suas experiências e seu contexto, sendo hoje essencial para compreender algumas das derivações artísticas do final do século 20.

Precisamente no 30º aniversário de sua morte, a exposição Instalação sobre duas figuras, 30 anos depois inicia as homenagens ao seu legado por meio da colaboração com o Projeto Leonilson, responsável por gerir o espólio do artista. Essas ações incluem várias exposições, palestras e uma publicação, que serão realizadas ao longo do ano sob o título Leonilson: Corpo Político. O objetivo central é compreender a prática artística de Leonilson sob uma perspectiva política, identificando como ele se posicionou diante das questões sociais que enfrentou, destacando suas abordagens artísticas, e tanto sua visão em relação a questões ecológicas e à preservação da memória de certos territórios como sua experiência enquanto um corpo que não se encaixa no paradigma heteronormativo. Isto se reflete em sua autorrepresentação ficcional e em sua sexualidade livre, suas alianças com outras minorias, seus valores políticos projetados a partir das notícias do cotidiano; sua política de afeto em relação à família – tanto a de sangue quanto a escolhida – e em seu empoderamento como um corpo frágil e doente, de forma que a política de cuidado também faz parte de seu legado.

A obra Instalação sobre duas figuras que o artista criou especificamente para a Capela do Morumbi em 1993, inaugurada poucas semanas após a sua morte, é essencial para abordar essas diversas questões. Esta instalação póstuma — visto que o próprio artista não pode ver a sua obra finalizada no espaço — apresenta uma cena de despedida, julgamento e eternidade, falando sobre os prazeres terrenos e carnais da vida, a bondade e a maldade do ser, e o destino do artista no limiar de pensar sobre seu legado e o momento de deixar o físico para outra dimensão. A figura do Lázaro de Betânia, que os Evangelhos registram no episódio de sua ressurreição, representa o próprio artista na instalação, uma das cinco figuras contempladas. O diálogo entre essas figuras permanece aberto e, ainda hoje, podemos entendê-lo como uma espécie de julgamento final do artista consigo mesmo e com a sociedade em que viveu.                              

Para aprofundar os aspectos conceituais, espaciais e históricos da instalação, esta edição da exposição, realizada pela Capela do Morumbi/Museu da Cidade de São Paulo, reúne pela primeira vez vários materiais originais dos projetos do artista para este trabalho, bem como a documentação da primeira instalação no espaço para o qual foi criada. Estes materiais, juntamente à palestra inaugural e a contemplação da instalação em si, permitem uma reflexão e celebração sobre uma vida de apenas 36 anos, mas cheia de vitalidades pessoal e artística. Dessa forma, assim como as proclamações feministas dos anos 1960, a instalação torna-se política em seu sentido mais profundo.              

Agustín Perez Rubio
Curador