INUNDAÇÕES EM SÃO PAULO

O alagamento da Várzea do Carmo com águas do Rio Tamanduateí represado pelo aterro que ligava a cidade ao Brás, está entre as mais antigas fotografias urbanas realizadas em 1862 por Militão Augusto Azevedo, somando-se a esta mais de 31 imagens, todas pertencentes ao acervo fotográfico do Museu da Cidade de São Paulo, que documenta enchentes e a situação de emergência deflagrada.

A exposição apresenta fotografias históricas entre 1862 a 1950, momento que as funções de permeabilidade das margens dos rios Tietê e Pinheiros mantinham-se preservadas, antecedendo a atual ocupação que desenhou a cidade, conforme texto de apresentação. “A rejeição dos rios na cultura paulistana se fortaleceu com o espírito de modernização do final do século 19. Neste momento transformador da cidade em que a linha férrea, a iluminação a gás, as linhas de bonde e os novos loteamentos são implantados, o poder público debatia projetos de adaptação da cidade ao novo tempo, a exemplo de soluções efetuadas em outras cidades no exterior. Integrando as obras de melhorias urbanas da região do Anhangabaú, consolidou-se na extensão do Rio Tamanduateí, entre a Ladeira do Carmo e sua foz, a canalização dos córregos e modulação do leito, bem como a o ajardinamento, mantendo o controle das margens até o período da 2ª Guerra Mundial, quando estes terrenos foram intensamente ocupados. Neste momento, associado ao Plano Viário do prefeito Prestes Maia, a atenção recaiu sobre os Rios Tietê e Pinheiros que sofreram retificação e tiveram as avenidas construídas em suas margens nas décadas posteriores, resultando em novas apropriações desses espaços, que culminaram na reconfiguração da cidade como um todo e das relações de seus habitantes com seus rios.”

Sobre o Museu da Cidade de São Paulo

O Museu da Cidade de São Paulo está localizado em imóveis de interesse histórico e arquitetônico, distribuídos pela malha urbana do município. Atualmente, seu acervo arquitetônico é composto pelo Solar da Marquesa de Santos, Beco do Pinto, Casa Nº 1/Casa da Imagem, Casa Bandeirante, Casa Sertanista, Capela do Morumbi, Casa do Tatuapé, Sítio da Ressaca, Sítio Morrinhos, Casa do Grito, Monumento à Independência, Casa Modernista e Chácara Lane. Também é responsável por um importantíssimo acervo fotográfico sobre a Cidade (coleções como Departamento de Cultura, Militão, Becherini, Gaensly, Expedição São Paulo 450 anos, entre outras), um acervo de bens móveis (constituído por peças sécs. XVII, XVIII, XIX, adquiridas a partir das atividades de comemoração do IV Centenário) e um acervo de história oral (alguns temas: Memória dos Movimentos Sociais; Memória e Processo do Trabalho; Movimento Moradia e Saúde; Memória do Imigrante; Memória Étnica; Memória e História do Cotidiano.

Sobre a Casa do Tatuapé

A Casa do Tatuapé, unidade que integra o Museu da Cidade de São Paulo, é uma construção em taipa de pilão, com seis cômodos e dois sótãos, que se diferencia de outros exemplares remanescentes do período colonial por apresentar telhado de apenas duas águas.
Em inventário de 1698, consta o registro que comprova a construção do imóvel em terreno que pertencera ao padre Matheus Nunes de Siqueira, que nomeou Mathias Rodrigues da Silva como administrador de seus bens, ficando a este o crédito de ter sido seu construtor. Em meados do século XIX, o sítio passou a abrigar uma olaria onde, no princípio, eram fabricadas exclusivamente telhas. Entretanto, com a imigração italiana, a olaria passou a fabricar também tijolos.

Para que a casa pudesse ser ocupada, tanto como residência como olaria, foi preciso haver água em suas cercanias para garantir o abastecimento. Sua implantação, portanto, esteve vinculada à proximidade de um curso d’água, situação hoje descaracterizada pela retificação do rio Tietê e canalização do córrego do Tatuapé.

Em 1945, após a morte de seu proprietário, Elias Quartim de Albuquerque, o imóvel foi comprado por uma tecelagem. Com o loteamento da propriedade, a Casa restou implantada em um terreno reduzido, cercado por outras construções muito próximas. Sua atual situação urbana impede a compreensão das relações que a Casa do Tatuapé mantinha originalmente com a paisagem da zona leste.

Três décadas mais tarde, a Casa do Tatuapé foi adquirida pela Prefeitura do Município de São Paulo. Entre 1979 e 1980, sob responsabilidade do Departamento do Patrimônio Histórico (DPH), por meio de um projeto realizado em conjunto com o Museu Paulista da USP, foram realizadas pesquisas arqueológicas e, em um segundo momento, o imóvel passou por obras de restauro.

Os trabalhos foram realizados de modo a reconstituir algumas paredes que estavam por desabar, assim como o madeiramento e o telhado. Também foram restauradas as janelas com balaústres e as portas almofadadas. Com o intuito de evidenciar características da época de sua construção, conservou-se nos cômodos o piso em terra batida.

Em 1981 a Casa do Tatuapé foi aberta à visitação pública. E, em 1991, o imóvel passou por novas obras de preservação, sendo reaberto à população no ano seguinte.