Exposição “Relicto”, de Fernando Limberger

Da várzea aos viveiros

A “encosta do Colégio” é um raro exemplo de território da cidade que, após ser ocupado por construções, recuperou o verde que existiu em tempos passados. Anteriormente habitado por população indígena, o marco da conquista colonial passou a ser iconograficamente registrado no início do século 19. Avistava-se, então, sempre de tomadas a partir da margem leste do rio Tamanduateí, uma vegetação rasteira típica de várzea que se estendia até a colina, onde, no topo, entre as torres das igrejas, situava-se a pequena cidade. Somente quando a fotografia passou a documentar as nossas ruas, já no momento das mudanças urbanas propiciadas pela formação do capital econômico, foi possível precisar a tipologia da vegetação, embora sem conflito com a descrição dos desenhos e das pinturas dos viajantes. Poucos anos depois, no local do antigo colégio dos jesuítas, foi erguido o Palácio do Governo. Na sua lateral surgiu o Palácio da Polícia, cujos anexos e garagem tomaram todo o fundo da atual Casa da Imagem. Ainda sob o calor das comemorações do IV Centenário da Fundação de São Paulo, as duas construções que sediaram o poder foram demolidas para a reconstrução do simbólico conjunto do Pátio do Colégio. Na inclinação do terreno foi erguido um grande talude de arrimo, coberto de terra, para desenhar o declive até a Rua Bitencourt Rodrigues, e nela foram plantadas, na década de 1970, as árvores que hoje restituem o verde, ainda que resultante do planejamento da engenharia. Ao observar as instalações Cinzas, Verde infinito e Retomada, de Fernando Limberger, que ocupam o Beco do Pinto e a Casa da Imagem entre 26 de setembro de 2020 e 18 de julho de 2021, o visitante poderá pinçar alguns fios condutores para compreender o histórico do meio ambiente local, nutrindo a reflexão sobre nosso passado, nosso presente e nosso futuro.

Museu da Cidade de São Paulo
Núcleo de Curadoria