A carreira de Bramante Buffoni (1912-1989), em todo o seu trajeto, exemplifica uma mudança no estatuto do artista na era pós-Revolução Industrial. Nas primeiras décadas do século 20 era comum que novas linguagens artísticas se desenvolvessem não apenas nos campos da pintura e da escultura, mas também na produção de ilustrações, cartazes, murais, cenografias, tapeçarias, entre outras técnicas.
O entendimento de uma modernidade ampliada incentivou a formação de artistas múltiplos, interessados nas relações entre arte, cidade e indústria. Alinhado com esses propósitos, Buffoni entendia-se como um desenhista, não no sentido canônico do termo, mas em seu sentido moderno. Projetava um cartaz comercial com o mesmo espírito de um mural decorativo. Ambos contribuíam para uma experiência de vida moderna.
O conjunto de obras aqui exposto nos dá a dimensão dos diversos meios de atuação de Buffoni, tanto na Itália como no Brasil. No térreo estão as produções em artes gráficas, suas participações em feiras e mostras milanesas, como as Trienais, e sua profícua produção de cartazes para a Olivetti e a Pirelli. Já no primeiro andar estão contempladas as produções murais do artista em São Paulo, desde os projetos residenciais até as galerias comerciais do centro da cidade. Neste ponto, destacam-se as importantes relações que Buffoni construiu no ambiente ítalo-paulista dos anos de 1950, aproximando-se de nomes como Pietro Maria Bardi, Giancarlo Palanti, Giuseppe Scapinelli e Francisco Matarazzo Sobrinho. A apresentação geral dos trabalhos de Buffoni – até então inédita no Brasil – permite-nos observar os processos de construção de sentido utilizados pelo artista, seus caminhos para explorar diferentes suportes e como ele criou um alfabeto próprio, com o qual se comunicou em diferentes idiomas.
Patricia de Freitas
Curadora
©Vic Von Poser, 2021