Representações da Cidade de São Paulo
O flerte da Prefeitura de São Paulo com o colecionismo fotográfico se deu no início do século passado, desencadeando a formação do primeiro acervo público de fotografia de nossa cidade. Nesse momento, as ruas mais antigas de nossa capital já estavam sendo registradas pelas câmeras de profissionais de grande gabarito, compondo um repertório de imagens que viria a contribuir para a escrita da nossa história: elementos visuais que permitiriam compreender as transformações urbanas com o incremento do sistema comercial e financeiro advindo do fortalecimento das economias cafeeira e industrial. E com o surgimento dos espaços do poder e dos trabalhadores, da fruição da sociedade na jovem metrópole movida por eletricidade e por deslocamentos motorizados, das avenidas, dos cinemas, dos serviços culturais…Enfim, pelas novidades que, em pouco tempo, nos distanciaram do modo de viver do período colonial.
O marco de constituição desse acervo é impreciso, mas é possível considerar que seu ato gerador foi o documento de comissionamento do fotógrafo Valério Vieira para a criação do Panorama da Capital de S. Paulo, em 1905, seguido da encomenda ao mesmo autor da produção de uma segunda obra, em 1921, para representar a cidade na exposição do Centenário da Independência realizada no Rio de Janeiro, dessa vez frisando o seu recolhimento na Câmara Municipal após o encerramento da exibição — condição que indica a intenção de preservação e guarda. Reforçando esse cortejamento, em 1914 a Prefeitura contratou o fotógrafo Aurélio Becherini para organizar um conjunto de fotografias que permitisse comparar as melhorias empreendidas pela gestão pública com as acanhadas cenas da cidade antiga, tendo como objetivo ilustrar o Álbum comparativo da Cidade de São Paulo (1862-1887-1914). A precisa edição desenvolvida por Becherini resultou em uma seleção com cerca de mil matrizes de vidro que documentam as ruas com imagens de Militão Augusto de Azevedo — incluindo a série captada em 1862 —, de Guilherme Gaensly e de sua própria autoria, fundando a coleção original do Acervo Fotográfico, hoje pertencente ao Museu da Cidade de São Paulo.
Em 1935, a contratação de Benedito Junqueira Duarte pelo Departamento de Cultura, então recém-criado por Mário de Andrade, possibilitou os primeiros cuidados de conservação e catalogação da coleção, assim como marcou o início da sua ampliação, que continuou a ser desenvolvida ao longo de várias gestões municipais, até a criação da Secretaria Municipal de Cultura, em 1975. Momento em que também foram formados o Departamento do Patrimônio Histórico e a Divisão de Iconografia e Museus, responsáveis pela aproximação com as práticas museológicas que passaram a ser adotadas na gestão do acervo.
A reestruturação da Secretaria, em 2010, regulamentou a transição da Divisão de Iconografia e Museus para o Museu da Cidade de São Paulo. Criou, ainda, a Casa da Imagem, instituição autônoma voltada à difusão e à gestão do acervo fotográfico. Até 2018, quando outro Decreto a vinculou ao Museu da Cidade de São Paulo, um amplo levantamento identificou as relevâncias e as lacunas nesse acervo, acompanhado de pesquisa sobre os seus principais fotógrafos, publicizado com exposições e livros de grande circulação que atualmente integram bibliotecas públicas e universitárias, nutrindo pesquisas sobre a fotografia brasileira. Nesse período também foi estruturado um programa curatorial de mapeamento da produção fotográfica paulistana que pudesse complementar as brechas do acervo, subsidiando o registro da história da cidade com esses documentos visuais. Decorreram do programa a realização de 40 exposições, dez publicações e abertura de processo de doação de mais de 600 fotografias ao acervo, conjunto este denominado com a rubrica Acervo Fotográfico do Museu da Cidade de São Paulo/Coleção Casa da Imagem.
A exposição Representações da Cidade de São Paulo reúne uma pequena edição dessa coleção recente, segmentada por temas como paisagem, sociedade e memória. A mostra propõe diálogos com as fotografias dos séculos 19 e 20, procurando evidenciar os lastros com a história da cidade, estimulando o visitante a perceber a cidade, seu passado e seu presente, desafiando a formação de sentidos de identidade e pertencimento.
Henrique Siqueira e Monica Caldiron
Museu da Cidade de São Paulo
Curadores
Marcos Cartum
Departamento dos Museus Municipais
Museu da Cidade de São Paulo
Diretor
© Juca Martins, 31 de Outubro de 1979. Morto pela Polícia Militar durante piquete na fábrica da Sylvania, o funeral do operário Santo Dias recebeu a soliedariedade e protesto de populares. São Paulo, SP
Representações da Cidade de São Paulo
Casa da Imagem | Museu da Cidade de São Paulo
Rua Roberto Simonsen, 136 B – Sé – São Paulo – SP (próximo à estação Sé do metrô).
25 de janeiro de 2025 a 31 de março de 2025
Terça a domingo, das 9 às 17h.
Entrada gratuita, sem necessidade de agendamento ou retirada de ingresso.
Serviço educativo disponível.
Intérprete em libras disponível, com agendamento prévio a partir do e-mail: educativomuseudacidade@gmail.com
© German Lorca. Binóculos, c.1960